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Sobre a nova Pandemia causada pelo vírus SARS-CoV-2

Atualizado: 11 de abr. de 2020

By Gustavo Mocruha Alcantara (Aluno BC&T-UFABC) , Lucas Matheus Stangherlin (Mestre em Biossistemas - UFABC), Profa. Maria Cristina Carlan da Silva (Professora do Programa de Pós-graduação em Biossistemas)


A nova pandemia chegou mudando quase todos os aspectos de nossas vidas, ceifando vidas e causando medo e insegurança do futuro, que certamente será diferente. Sabemos que desde os primórdios da humanidade as doenças infecciosas têm sido nossa companhia. Agentes infecciosos, como o vírus da varíola, vírus da gripe espanhola e vírus da imunodeficiência humana (HIV) foram responsáveis por mais mortes do que qualquer outra causa.

Os vírus são particularmente bem sucedidos em serem transmitidos entre populações, em comparação com outros microrganismos patogênicos como bactérias e protozoários. Vírus são parasitas intracelulares obrigatórios e, ao infectar uma célula, se replicam exponencialmente, sendo que uma célula infectada por uma partícula viral é capaz de produzir e liberar de centenas a milhares de novas partículas, capazes de invadir outras células e organismos.

A atual pandemia já era esperada e alertada por muitos cientistas, especialmente virologistas. Muitos previam uma pandemia causada por uma nova linhagem de vírus Influenza (o vírus que causa gripe) altamente patogênica, capaz de ser transmitida rapidamente entre humanos que causaria efeitos devastadores. Esta possibilidade ainda é real, no entanto a atual pandemia é causada pelo vírus SARS-CoV-2, que é o causador da COVID-19.

Coronavírus causam doenças respiratórias, entéricas e sistêmicas em humanos, peixes e aves. Os primeiros Coronavírus humanos foram identificados em 1960, no entanto, foram mais intensamente estudados após a emergência do Coronavírus da Síndrome Respiratória Aguda (SARS-CoV) que causou epidemias em 2002 e 2003 [1, 2, 3] e o vírus da Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS-CoV) em 2012. Estudos identificaram vírus similares em morcegos [4] que foram, então, considerados os hospedeiros naturais que poderiam ser responsáveis por próximas epidemias/pandemias causadas por Coronavírus. Como colocado pelo virologista Vincent Racaniello, da Rockefeller University: “Coronavírus são amadores quando comparados com o vírus Influenza” [5], que são facilmente transmitidos por aerossóis. O surgimento de uma nova linhagem de Coronavírus, capaz de ser transmitida eficientemente entre humanos, patogênica, combinada com a ausência total de imunidade da população é responsável pela atual pandemia de COVID-19.

Nos dias atuais, e diferentemente das pandemias passadas temos como aliada a ciência contemporânea. Os avanços tecnológicos em várias áreas científicas, principalmente no século passado, nos permitem identificar e sequenciar genomas virais e de outros agentes patogênicos rapidamente. Os conhecimentos de biologia molecular e virologia que evoluíram enormemente, desde o surgimento concomitante destas duas áreas nos anos 50 e 60 nos permitem estudar e elucidar mecanismos de patogenicidade destes agentes.

Desde o relato de um novo Coronavírus por chineses em 31 de dezembro de 2019 e liberação do genoma viral um mês após (Janeiro de 2020), já foram desenvolvidos testes de diagnóstico, estudos evolutivos de variações genéticas do vírus, estudos de mecanismos de patogenicidade viral, de desenvolvimento de fármacos antivirais e vacinas, dentre outros [6].

O que estamos vivenciando nesta pandemia é um grande volume de informação sendo compartilhada por cientistas do mundo inteiro em uma velocidade enorme. Diversas drogas e protocolos já estão sendo testados, com o destaque para a cloroquina e seu análogo hidroxicloroquina, que têm ganhado destaque graças a alguns artigos científicos que sugerem que podem inibir a replicação do vírus SARS-CoV [7, 8, 9], e em um artigo de março deste ano [10], sugerindo que essas drogas possuem potencial efeito antiviral no SARS-CoV-2 em pacientes infectados. Com bases nesses avanços o Ministério da Saúde na nota informativa Nº 5/2020-DAF/SCTIE/MS [11] regulamentou o uso da cloroquina como terapia adjuvante no tratamento de formas graves da Covid-19 em pacientes hospitalizados e somente nesses casos, já que ainda há poucas evidências de seu funcionamento. Vacinas também já estão sendo testadas e entrando em ensaios clínicos em humanos.

Espera-se que, em breve, existam tratamentos comprovadamente eficazes seguros e vacinas para o “novo Coronavírus” e acredita-se que a experiência desta pandemia, juntamente com os enormes avanços científicos de várias áreas científicas, nos prepare melhor para próximas pandemias e ainda nos mostre que para nossa sobrevivência temos que nos unir de várias formas especialmente nos esforços científicos. Espera-se ainda que dirigentes governamentais entendam a relevância da ciência e dos investimentos em suas diversas áreas.

Referências

1- Drosten C, Günther S, Preiser W, van der Werf S, Brodt H-R, Becker S, Rabenau H, Panning M, Kolesnikova L, Fouchier R A.M, et al. . 2003. Identification of a novel coronavirus in patients with severe acute respiratory syndrome. N Engl J Med. 348(20):1967–1976. doi:10.1056/NEJMoa030747.

2- Ksiazek, T. G. et al. A novel coronavirus associated with severe acute respiratory syndrome. N. Engl. J. Med. 348, 1953–1966 (2003).

3- Peiris, J. S. M. et al. Coronavirus as a possible cause of severe acute respiratory syndrome. Lancet 361, 1319–1325 (2003).

4- Lau, S. K. P. et al. Severe acute respiratory syndrome coronavirus-like virus in Chinese horseshoe bats. Proc. Natl. Acad. Sci. U. S. A. 102, 14040–14045 (2005).

5- Living on Earth: Decoding the Coronavirus. Available at: https://www.loe.org/shows/segments.html?programID=20-P13-00005&segmentID=1. [Acesso em 2 de abril de 2020].

6- Malik, Y. S. et al. Emerging novel coronavirus (2019-nCoV)—current scenario, evolutionary perspective based on genome analysis and recent developments. Vet. Q. 40, 68–76 (2020).

7- Savarino A, Bounavoglia C, Norelli S, Di Trani L, Cassone A. Potential therapies for coronaviruses. Expert Opin Ther Pat. 2006;16(9):1269–88.

8- Keyaerts E, Vijgen L, Maes P, Neyts J, Van Ranst M (2004). In vitro inhibition of severe acute respiratory syndrome coronavirus by chloroquine. Biochem Biophys Res Commun 323: 264–268.

9- Vincent MJ, Bergeron E, Benjannet S, Erickson BR, Rollin PE, Ksiazek TG, et al. (2005). Chloroquine is a potent inhibitor of SARS coronavirus infection and spread. Virol J 2: 69

10- Gautret P, Lagiera JC, Parola P, et al. Hydroxychloroquine and azithromycin as a treatment of COVID-19: results of an open-label non-randomized clinical trial. International Journal of Antimicrobial Agents. 2020. In Press 17 March 2020 – DOI: 10.1016/j.ijan!micag.2020.105949.

11- SEI/MS - 0014167392 - Nota Informativa. doi:10.1016/j.ijan!micag.2020.105949 [Acesso em 2 de abril de 2020].

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