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Diagnóstico de baixo custo com auto coleta de amostras biológicas do Coronavirus

by Luana Prado Rolim

Existem dois tipos de testes realizados no diagnóstico de SARS-CoV-2: os testes indiretos que permitem a detecção de anticorpos contra proteínas do vírus; e os testes diretos que identificam proteínas ou ácido nucléico do vírus. O teste de amplificação de ácidos nucleicos, como a RT-PCR, é o método recomendado pela Organização Mundial da Saúde para o diagnóstico de pessoas infectadas pelo SARS-CoV-2. Para a realização deste teste são utilizadas secreções respiratórias e a coleta envolve a introdução de um Swab nasal nas narinas, até atingir a parede posterior da nasofaringe, além de outro Swab introduzido na garganta do paciente. Este é um método invasivo e que causa desconforto nos pacientes, podendo causar lesões na cavidade nasal e irritação no momento da coleta. Além disso, durante o procedimento, o paciente pode espirrar ou mesmo vomitar, colocando em risco o indivíduo que realiza a coleta.


Coleta de material da nasofaringe por Swab nasal

Fonte: <a href="https://br.freepik.com/vetores/medico">Médico vetor criado por freepik - br.freepik.com</a>


Coleta de material da nasofaringe por Swab nasal Fonte: <a href="https://br.freepik.com/vetores/medico">Médico vetor criado por freepik - br.freepik.com</a>

A coleta via Swab nasal se justifica pelo fato do SARS-CoV-2 ser um vírus que possui ligação íntima com as células do sistema respiratório, através da interação da proteína viral Spike com os receptores celulares ACE2. No entanto, outros órgãos e tecidos possuem alta expressão deste receptor e desta forma interagem com o vírus. Estudos têm demostrado que as glândulas salivares expressam o receptor ACE2 tanto quanto as células pulmonares e os ductos salivares de macacos rhesus se apresentam como alvo primário para o SARS-CoV.

Com base nessas informações, pesquisadores de diferentes países passaram a testar a saliva como amostra para o diagnóstico em pacientes com COVID-19. Um dos primeiros estudos realizados, publicado em março de 2020 pela The Lancet Infections Diseases e realizado por pesquisadores da Universidade de Hong-Kong na China, comparou a eficiência da detecção de ácidos nucléicos do vírus em amostras de sangue, fezes, urina e saliva de 23 pacientes diagnosticados com COVID-19. As amostras de saliva destes pacientes apresentaram uma alta carga viral durante a primeira semana após o início dos sintomas e em um paciente, permaneceu alta por 25 dias.

Após este estudo, outros grupos de pesquisadores publicaram artigos com um número cada vez maior de amostras de saliva testadas e todos eles demonstraram eficiência ao detectar o SARS-CoV-2. As vantagens no uso da saliva como amostra para o diagnóstico do coronavírus estão relacionadas à fácil aceitação dos pacientes e profissionais da saúde, visto que este é um método não invasivo e que não expõe os profissionais à risco.

Tendo em vista a facilidade de coleta da saliva e a possibilidade de redução nos custos do diagnóstico, a Profª Drª Márcia Aparecida Sperança e a Drª Aline Diniz Cabral padronizaram em agosto de 2020, o método de detecção do SARS-CoV-2 em amostras de saliva de pacientes infectados. O diferencial deste método é o armazenamento da amostra em uma solução de inativação de partículas virais.

Amostras coletadas por Swab nasal são armazenadas em solução-salina e mantidas sob refrigeração até o momento de processamento do material. Este tipo de armazenamento exige uma estrutura laboratorial específica (Nível de Biossegurança – 3, ou NB-3), pois os vírus dissolvidos em solução-salina permanecem ativos, podendo contaminar o profissional que o manipula. Laboratórios NB-3 são destinados à manipulação de agentes patogênicos que apresentam alto risco individual, porém possuem alto custo de manutenção, o que restringe a sua presença em poucas instituições de saúde e pesquisa.

A Universidade Federal do ABC ainda não conta com uma estrutura laboratorial NB-3 e a solução encontrada pela equipe do laboratório de Agentes Patogênicos da UFABC, coordenada pela Profª Márcia Sperança para manipular amostras de pacientes infectados com o SARS-CoV-2 em laboratórios NB-2, foi inativar o vírus no momento da coleta. As amostras são coletadas pelo próprio paciente com a introdução de uma bola de algodão hidrófilo estéril de 10 mm de diâmetro na boca. Após alguns segundos, o algodão embebido em saliva é colocado em um tubo contendo 1mL de solução de fenol + guanidina. Esta solução irá lisar as células presentes na saliva e inativar o vírus, desta forma, o material pode ser encaminhado para um laboratório NB-2 e analisado sem riscos de contaminação ao profissional.


Referencias

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