by Dra. Andréia Moreira dos Santos Carmo, Pesquisador Científico IV - CLR IAL de Santo André VIII (Instituto Adolfo Lutz), doutora pelo programa de Pós-graduação em Biossistemas - UFABC.
O Instituto Adolfo Lutz (IAL) é formado por treze laboratórios distribuídos pelo Estado de São Paulo, sendo um Laboratório Central e doze Centros Regionais, localizados em cidades estratégicas: Araçatuba, Bauru, Campinas, Marília, Presidente Prudente, Ribeirão Preto, Rio Claro, Santo André, Santos, São José do Rio Preto, Sorocaba e Taubaté.
O IAL Central e alguns Centro Regionais, dentre os quais o CLR IAL de Santos André, fazem parte de uma plataforma de laboratórios que identificam o SARS-CoV-2 de casos suspeitos de COVID-19 em amostras de secreções nasal/oral pela técnica de RT-PCR (reação em cadeia da polimerase em tempo real). O RT-PCR utiliza sondas moleculares para que seja possível amplificar uma determinada sequência do RNA viral, seguindo protocolo recomendado pela Organização Mundial de Saúde. A Fiocruz, por meio do laboratório da Bio-Manguinhos, é responsável pela produção dos kits utilizados no diagnóstico e sua distribuição para os laboratórios de referência de todos os estados da federação.
Em fevereiro de 2020, pesquisadores do Instituto Adolfo Lutz Central, em conjunto com o Instituto de Medicina Tropical da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e a Universidade de Oxford, completaram o sequenciamento do primeiro caso de coronavírus da América Latina. O sequenciamento foi realizado em 48 horas após o caso ter sido confirmado. Os pesquisadores fazem parte do projeto CADDE, que tem apoio da FAPESP e do Medical Research Council (MRC) do Reino Unido, e desenvolve novas técnicas de monitoramento de epidemias em tempo real. O sequenciamento é essencial para auxiliar no desenvolvimento de vacinas e de testes diagnóstico, bem como para compreensão da dispersão do vírus e detecção de mutações que possam alterar a evolução da doença. Os dados foram divulgados no site virological.org, um fórum de discussão e compartilhamento de dados entre virologistas, epidemiologistas e especialistas em saúde pública. As análises preliminares demonstraram que o vírus identificado no Brasil era diferente, por três mutações, do referencial observado em Wuhan, na China. Duas dessas alterações aproximavam o vírus daqueles diagnosticados na região da Bavária, na Alemanha.
Para a identificação do SARS-CoV-2 em amostras de secreção nasal/ oral é necessária uma avaliação clínica de casos suspeitos, seguida de solicitação médica para a coleta das amostras. As coletas são realizadas utilizando-se swabs (tipo de cotonete) de rayon de haste flexível para obtenção das secreções das narinas e orofaringe. É muito importante não utilizar swabs contendo alginato e swabs com haste de madeira, pois estes materiais contêm substâncias que inativam os vírus e inibem a reação de PCR em tempo real.
O profissional de saúde que realizará a coleta deve aplicar criteriosamente os cuidados de biossegurança para evitar a contaminação individual e do ambiente, Deve utilizar EPIs (equipamentos de proteção individual) para a proteção contra aerossóis (máscara N95, avental de manga longa descartável, luvas, touca, óculos e protetor facial).
No total são coletados 3 swabs, narina direita, narina esquerda e orofaringe e todos são colocados em um tubo de polipropileno com tampa de rosca contendo dois a três mililitros de solução fisiológica estéril. Devem ser imediatamente enviados até o laboratório, acondicionados em gelo ou gelox (tipo de gelo reutilizável), no entanto, em caso de impossibilidade desta logística poderão ser armazenadas até 72 horas de +4 a +8°C e, posteriormente, encaminhados para o laboratório acondicionados em banho de gelo ou gelox.
Para o transporte, as caixas isotérmicas devem seguir os regulamentos de remessa para Substância Biológica UN 3373, Categoria B. As amostras devem ser transportadas em caixas individuais, separadas de outros agravos. Deve-se seguir algumas observações: não utilizar tubos de vidro, não utilizar tubos sem tampa, os tubos devem ser mantidos na posição vertical, não acondicionar a ficha com os dados do paciente no interior da caixa isotérmica, contendo a amostra biológica coletada.
É importante ressaltar que um resultado não detectado com RT-PCR para o SARS-CoV-2 não exclui o diagnóstico da COVID-19, já que vários fatores como coleta inadequada da amostra, tempo decorrido entre a coleta e o início dos sintomas, e oscilação da carga viral podem influenciar o resultado do exame. Dessa forma, sempre que houver discordância com o quadro clínico epidemiológico, recomenda-se a repetição do teste em uma nova amostra de secreção do trato respiratório do paciente.
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