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Coronavírus: proteases e seus inibidores são possíveis alvos para vacinas e medicamentos

  • biossistemasufabc
  • 31 de mar. de 2020
  • 3 min de leitura

By Dra. Lívia de Moraes Bomediano Camillo, Doutora em Biossistemas. UFABC.


Os coronavírus são um grupo de vírus que causam sintomas respiratórios que variam de uma gripe comum à pneumonia e, aparentemente, na maioria das pessoas os sintomas tendem a ser leves1. No entanto, existem alguns tipos de coronavírus que podem causar doenças graves, como o Coronavírus da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS-CoV), identificado pela primeira vez na China em 2003 e o Coronavírus da Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS‐CoV), identificado pela primeira vez na Arábia Saudita em 2012. O novo coronavírus responsável pela atual pandemia foi identificado pela primeira vez na China, em dezembro de 2019 (COVID-19)1,2. A identificação de proteases dos vírus ou de proteases que envolvam o processo de infecção pelo vírus e seus possíveis inibidores é de extrema importância na corrida para a descoberta de possíveis alvos de uma vacina ou de um medicamento efetivo no tratamento da doença causada pelo COVID-19. Neste cenário, o uso de ferramentas de bioinformática estrutural vem sendo um dos principais aliados dos cientistas.

A proteína determinada S (do inglês, spike) presente no coronavírus facilita a entrada viral nas células humanas. Esta entrada depende da ligação da unidade de superfície S1 da proteína S a um receptor celular, facilitando a ligação viral à superfície das células-alvo. A entrada requer a inicialização da proteína S por proteases celulares, o que implica na clivagem da proteína S nos locais S1/S2, permitindo a fusão das membranas virais e celulares3. As proteases envolvidas neste processo são todas potenciais alvos para intervenções antivirais, pois sua inibição evitaria a entrada do vírus na célula hospedeita. Para tanto, suas estruturas e as estruturas de possíveis inibidores de suas ações precisam ser conhecidas e solucionadas em tempo hábil para que um tratamento efetivo possa controlar a progressão da doença.

Em um outro exemplo, pesquisadores empregaram as metodologias de drug design, virtual screening e high-throughput screening para identificar novas drogas que possam ter como alvo as principais proteases do coronavírus4. Mpro é uma protease essencial para a replicação e transcrição viral. Com um estudo de virtual screening a partir da estrutura da protease, foi possível identificar 10.000 compostos, incluindo medicamentos aprovados, candidatos a medicamentos em ensaios clínicos e outros compostos com propriedades farmacológicas ativas como possíveis inibidores da protease Mpro. O mesmo grupo de pesquisadores mostrou que seis destes compostos possuem forte atividade anti-viral em experimentos com células humanas. Um destes inibidores, identificado como N3, apresentou uma potente atividade inibitória irreversível contra a protease Mpro. Após as informações obtidas através das ferramentas computacionais, o grupo determinou o cristal da estrutura desta protease complexada com este inibidor e defende que este possa vir a ser utilizado em testes clínicos contra a infecção causada pelo COVID-194.

A tecnologia deve ser aliada à ciência na busca de soluções para o problema que enfrentamos. Empresas de tecnologia vem ajudando grupos de cientistas a lidar com os volumes de dados e com simulações computacionais acerca do conhecimento da estrutura de proteínas virais e busca de compostos que possam atuar como medicamentos contra o COVID-19. A IBM colocou seu supercomputador a disposição dos cientistas para filtrarem bibliotecas de compostos de medicamentos conhecidos para encontrarem aqueles que possuem maior probabilidade de serem eficazes contra o coronavírus5. Até o momento, 77 compostos selecionados neste supercomputador estão em fase de testes in vivo.

Nós estamos em meio à uma situação inédita em nossa geração. A pandemia por coronavírus vai ser um marco no meio científico mundial. Todo conhecimento acerca da atividade viral, do processo infeccioso e o desenvolvimento da doença é bem-vindo e o uso de ferramentas computacionais aceleram e auxiliam os experimentos com possíveis medicamentos. E ainda mais importante, a corrida para encontrar uma vacina ou medicamento contra a doença causada pelo COVID-19 abrirá portas para o desenvolvimento de novas tecnologias que poderão ser utilizadas para solucionar outras doenças no futuro.


1. HEYMANN, David L.; SHINDO, Nahoko. COVID-19: what is next for public health?. The Lancet, v. 395, n. 10224, p. 542-545, 2020.

2. WORLD HEALTH ORGANIZATION et al. Coronavirus disease 2019 (COVID-19): situation report, 59. 2020.

3. HOFFMANN, Markus et al. SARS-CoV-2 cell entry depends on ACE2 and TMPRSS2 and is blocked by a clinically proven protease inhibitor. Cell, 2020.

4. JIN, Zhenming et al. Structure of Mpro from COVID-19 virus and discovery of its inhibitors. bioRxiv, 2020.

5. IBM’s response to COVID-19. Disponível em: https://www.ibm.com/thought-leadership/covid19/. Acessado em 31/03/2020.

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