by Prof. Vinicius de Andrade Oliveira, Pós-graduação em Biossistemas, CCNH-UFABC.
Em meio à pandemia da COVID-19, doença causada pelo vírus SARS-CoV-2, um dos principais desafios é conseguir reduzir o aparecimento de novos casos, que indica que a doença não dissemina mais rápido do que o sistema de saúde pode comportar. Uma das maneiras efetivas de controle da infecção é realizando o isolamento dos pacientes infectados. Para tal, é necessário a realização de testes em grande escala, isto é, no maior número de indivíduos possível, para que se possa ter uma maior exatidão de quais são os pacientes infectados e isolá-los do convívio social e familiar. Países, como a Coréia do Sul, que adotaram a estratégia de testar grande parte da sua população logo no início dos primeiros casos, viram a curva de infecção não crescer de maneira exponencial. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) o primeiro caso de COVID19 registrado naquele país foi em 20 de janeiro de 2020 e até o dia 12 de abril o país asiático contabilizava 10.512 casos com 214 mortes [1]. Desse modo, eles conseguiram gerenciar melhor os casos graves, evitando o colapso do sistema de saúde e diminuindo o número de morte sem tratamento da sua população. Para exemplificar, no Brasil a primeira notificação ocorreu somente no final de fevereiro de 2020, mais de um mês depois da Coréia do Sul, mas os nossos números de casos infectados e de mortes por COVID são o dobro e o quádruplo da Coréia do Sul, respectivamente [1]. Mas quais são os testes disponíveis atualmente para saber se o paciente está infectado ou não?
Os testes atualmente para detecção do SARS-CoV-2 são os testes rápidos, imunológicos (sorológicos) e moleculares e os liberados pela ANVISA são os moleculares e os testes rápidos (www.anvisa.gov.br) [2]. Ambos possuem vantagens e desvantagens, e a depender do momento em que o indivíduo se encontra em relação ao processo de infecção pelo SARS-CoV-2 podem ser mais eficazes, logo não são excludentes, mas sim complementares.
O teste molecular é o aceito para determinar a quantidade de vírus que o indivíduo possui no organismo [3]. Ele é realizado a partir de amostras coletadas da região da narina e ou da garganta do paciente. Através da extração do material genético da amostra coletada, é realizada uma técnica chamada de PCR (do inglês Polymerase Chain Reaction) que detectará se havia e a quantidade de material genético viral que o paciente apresentava em um dado momento. Com ele, por exemplo, pode-se monitorar a melhora do paciente em decorrência da diminuição da carga viral. Ainda, o teste molecular é bastante sensível e consegue detectar baixas concentrações do vírus, o que auxiliaria na detecção dos pacientes assintomáticos. Todavia, para os pacientes já infectados e que se recuperaram da infecção sem diagnóstico de COVID19, o exame do PCR não faria sentido, pois o paciente já não apresentaria mais vírus em seu corpo. Outra desvantagem do teste molecular é o tempo necessário para realização do teste, em torno de 6h, além de diversos insumos para realização do procedimento de extração e da técnica de PCR, muitas vezes, obtidos por importação, além da necessidade de uso de aparelhos específicos para sua detecção.
Já os testes imunológicos (sorológicos), incluindo os testes rápidos, utilizam-se da resposta imune do paciente contra o vírus. Estes testes são para detecção de anticorpos específicos que o indivíduo infectado gerou durante o combate ao vírus, tornando-se imunizado para SARS-CoV-2. Estes anticorpos são do tipo IgM e IgG. Durante a resposta imune do indivíduo contra uma infecção pelo SARS-Cov-2, o indivíduo produzirá primeiramente anticorpos específicos para o SARS-CoV-2 do tipo IgM e, posteriormente IgG, sendo este último o responsável por conferir a imunidade protetora contra novas infecções pelo SARS-CoV-2 [4]. Por características inerentes a resposta imune humoral (de produção de anticorpos) é possível saber se o indivíduo foi recém-infectado (detecção somente de anticorpo IgM) ou se a infecção ocorreu há mais tempo (detecção de IgG). Portanto, com esta sequência de eventos, é possível inferir tanto se e quando a pessoa foi infectada por SARS-CoV-2.
Desse modo, os testes imunológicos e o teste rápido são baseados na detecção de IgM e IgG no sangue, soro e/ou plasma dos pacientes para saber se o indivíduo está ou foi infectado pelo SARS-Cov2. A diferença do teste rápido para o imunológico é que o rápido, além da obviedade do tempo – pode se ter o resultado em apenas 15 minutos - não demanda estrutura laboratorial e aparelhos mais sofisticados para sua realização comparado com o sorológico. Ambos são testes qualitativos, ou seja, o resultado revela se o paciente foi ou não infectado. Importante ressaltar que no caso positivo, não é possível, apenas com esse teste, saber a quantidade de vírus no organismo do indivíduo. Além disso, indivíduos que não montarem resposta imune efetiva contra o vírus não produzirão anticorpos específico contra o vírus, e poderiam ser subdiagnosticados para a COVID-19. Aqui novamente reforça-se a ideia de que os testes moleculares e imunológicos são complementares. Entretanto, indivíduos com anticorpos específicos, IgG, podem ser considerados imunocompetentes para responder ao SARS-Cov-2, e podem entrar em estudos para entender os mecanismos que regem a resposta imune contra o vírus. Além disso, indivíduos com anticorpos IgG contra o vírus poderiam ser considerados a sair do isolamento, pois eles já entraram em contato com o vírus e adquiriram anticorpos específicos, e em teoria, não seriam reinfectados, mas esta última parte ainda requer estudos científicos que suportem esta estratégia. Atualmente, o Brasil dispõe somente dos testes moleculares (PCR) e dos testes rápidos. Seria importante aumentar o número de testes na população brasileira para poder estabelecer políticas de isolamento e de combate à pandemia de maneira mais efetiva.
Imagem do teste rápido:
Resultados positivos (C - controle, G -IgG, M - IgM)
Resultados negativos
Imagem de equipamento de PCR em tempo real:
Referências:
[1] World Heath Organization (WHO), www.who.int
[2] Agência Nacional de Vigilância Sanitária (www.anvisa.gov.br)
[3] Ministério da Saúde. Guia de Vigilância Epidemiológica: Emergência de Saúde Pública de Importância Nacional pela Doença pelo Coronavírus 2019.
[4] P-R Hsueh et al., Chronological Evolution of IgM, IgA, IgG and Neutralisation Antibodies After Infection With SARS-associated Coronavirus. Clin Microbiol Infect, 10 (12), 1062-6; 2004
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