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A descoberta do anticorpo humano que bloqueia a infecção por SARS-CoV-2

By Dra. Lívia de Moraes Bomediano Camillo, Doutora em Biossistemas. UFABC.

Há um mês, pesquisadores da Universidade de Utrecht, na Holanda, anunciaram a descoberta de um anticorpo monoclonal humano capaz de bloquear a ação do vírus SARS-CoV-2, causador da doença COVID-19 (1).


Anticorpos monoclonais (mAb) são anticorpos produzidos por células imunes idênticas, todas clones de uma célula-mãe única. Georges Köhler and César Milstein foram os primeiros pesquisadores a reportar a produção de mAbs com especificidade pré-determinada (2) e a técnica é utilizada até os dias de hoje como uma forte ferramenta no tratamento de diversas doenças.


Estudos anteriores mostraram que anticorpos para outros coronavírus, como SARS-CoV (responsável pelo surto da Síndrome Respiratória Aguda Grave de 2002), possuem como alvo primário a glicoproteína S da superfície viral, mediadora da entrada do vírus nas células humanas (3, 4). A proteína S possui duas subunidades funcionais que participam do processo de ligação e de fusão da membrana viral e celular, sendo estas a subunidade S1, com quatro domínios principais S1A a S1D e a subunidade S2. A proteína S de SARS-CoV-2 e a proteína S de SARS-CoV são 77,5% idênticas em suas sequências de aminoácidos primária e são estruturalmente muito próximas (5, 6). Ambas proteínas se ligam de forma semelhante ao receptor ACE2 (enzima conversora de angiotensina 2), sofrendo alterações conformacionais que permitem a fusão da membrana viral com a membrana celular (7).


Diante disso, Wang e colegas identificaram o mAb humano 47D11, capaz de se ligar a células que expressam as proteínas S de SARS-CoV e SARS-CoV-2. O mAb 47D11 apresentou uma ação inibidora forte contra a infecção em células VeroE6 por SARS-CoV e SARS-CoV-2. Os resultados demonstram que o mAb 47D11 tem como alvo o domínio SB da subunidade S1 da glicoproteína S de SARS-CoV-2, sendo este domínio conservado entre as proteínas S de SARS-CoV e SARS-CoV-2.


Os autores concluem que mAb 47D11 é capaz de neutralizar de forma cruzada os vírus SARS-CoV e SARS-CoV-2, usando um mecanismo que é independente da inibição da ligação ao receptor (1). Esta descoberta é de extrema importância e será muito útil para o desenvolvimento de testes de detecção de antígenos e ensaios sorológicos direcionados à SARS-CoV-2, além de ser um passo a mais para o desenvolvimento estratégico de novos fármacos e de uma possível vacina.


(1) Wang, C., Li, W., Drabek, D., Okba, N. M., van Haperen, R., Osterhaus, A. D., ... & Bosch, B. J. (2020). A human monoclonal 1 antibody blocking SARS-CoV-2 infection. Biorxiv.

(2) Köhler, G., & Milstein, C. (1975). Continuous cultures of fused cells secreting antibody of predefined specificity. nature, 256(5517), 495-497.

(3) Reguera, J. et al. Structural bases of coronavirus attachment to host aminopeptidase N and its inhibition by neutralizing antibodies. PLoS Pathog. 8, e1002859 (2012).

(4) Yu, X. et al. Structural basis for the neutralization of MERS-CoV by a human monoclonal antibody MERS-27. Sci. Rep. 5, 13133 (2015).

(5) Wrapp, D. et al. Cryo-EM structure of the 2019-nCoV spike in the prefusion conformation. Science 367, 1260–1263 (2020).

(6) Walls, A. C. et al. Structure, function, and antigenicity of the SARS-CoV-2 spike glycoprotein. Cell 181, 281–292.e6 (2020).

(7) Li, W. et al. Angiotensin-converting enzyme 2 is a functional receptor for the SARS coronavirus. Nature 426, 450–454 (2003).

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